terça-feira, 28 de outubro de 2008

Sobre surpresas, ou opiniões que variam.

- Mas mãe, eu nao gosto de surpresas !
- Fô, larga de ser chata ! Supresas são tão legais !
- Não são, mãe. Não gosto e pronto. Tchau !

Logo depois, ao sair da padaria (ai, padarias. Sempre tenho surpresas nas padarias.) e ir ao mercado comprar queijo e presunto (ninguém percebeu que eu ia fazer um misto quente) eu olho pra praça e vejo ele, um ano e três dias depois daquela tarde em que eu o encontrei, super por acaso, no cinema de Barra Mansa. Um ano e três dias sem ver ele, sem abraçar ele, sem ele reclamar da minha mão, fugir das formigonas ou se assustar com borboletas gigantes, um ano e três dias depois de muita saudade, ele resolve me fazer uma surpresa. E que surpresa, foi muitas lágrimas de felicidades, e um abraço de mais de dez minutos que eu gostaria que durasse bem mais que isso. Era tanta coisa pra contar, tanta coisa pra escutar, tanta coisa pra fazer, e era tão pouco tempo, menos de dois dias. Eu sabia que não ia dar tempo de fazer nem o mais importante, mas tentei fazer o essencial. Foram dois dias de muitas surpresas mais que ótimas, mas como que queria que durasse bem mais que isso. Ele foi embora, e eu fiz questão de não ter uma despedida, pra nao chorar mais do que eu chorei quando o vi. Agora, vão se passar mais dois meses longe dele, dois meses que vão parecer durar mais que esse um ano e três dias.
E no final de tudo isso, a gente descobre o quanto surpresas nos, hm, surpreendem ? Sejam boas ou ruins, surpresas são a melhor parte da vida. E quer saber ? Eu gosto delas, eu me sinto feliz com elas, eu me animo com elas, eu me formo com elas. Mesmo que elas nao sejam lá tão favoráveis pra minha pessoa, que venham mais surpresas por ai.

Sei que é estranho dizer isso num post desses, mas eu amo ele e nao quero ficar um ano longe dele novamente. E pra informação do nosso querido anônimo (anônimo, quem é voce ?), eu sou uma pessoa muito, muitíssimo feliz.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

História (quase) mal escrita,

Teve um dia que tudo estava certo, tinha uma história que começava com "era uma vez" e terminava com um final feliz. O tempo foi passando, e todos os dias aquela história era escrita nas páginas de algum livro, talvez um livro que não tivesse folhas, mas ia ser sempre lido por alguém. Era um conto de fadas, e como todos os contos de fadas, veio uma bruxa tentar acabar com a felicidade da princesa e do seu amado príncipe. Seu nome era Destino, e mesmo sem inventar mentiras, seqüestrar o príncipe ou colocar a princesa em sono profundo, ela consegui separá-los.

A princesa chorou, parou de comer e se trancou no quarto não querendo falar com mais ninguém. Mas um dia, sua conselheira te disse meias verdades que a fizeram levantar e seguir. Talvez não em frente, mas também não voltar atrás. Ela optou em colocar mais uma personagem na história, a Vida.

Uma rebelião interna aconteceu, e a Esperança, a Sinceridade, a Saudade, e a Inocência morreram, o Amor sumiu e ninguém conseguia achá-lo. A Rainha achou que era o fim de sua filha, e seu reino nunca mais seria o mesmo sem tais (importantes e essenciais) guerreiros. O tempo passou...

A Princesa decidiu sair do seu território, se arriscar num ligar onde nada conhecia, e onde ninguém a conhecia e mudar seu nome pra Mulher. O Amor foi encontrado, e ela descobriu que seu sobrenome era Próprio, os guerreiros mortos sempre a acompanharam e não deixaram sua alma sozinha, matou muitos por (quase) nada e sabia que estava fazendo o certo, escreveu seu próprio livro, do seu jeito. Ela revolucionou. E foi aqui que a real história começou...

Contos de fadas são modernizados, mas sempre têm o mesmo final.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

15 - 30 - 60

Abro a porta e me deparo comigo mesmo, aos 15 anos. Camiseta dos Sex Pistols, calça jens em estado adiantado de deterioração e botinhas London Fog (sapatos de camurça que faziam sucesso no século passado).
--Cara, esse seu cabelo tá ridícilo- digo eu, aos quinze, a mim mesmo, aos trinta.
--Pode me explicar o que está acontecendo? - pergunto, aos 30.
Eu, com 15, entro no meu apartamento e sento-me no sofá. Não pareço muito contente:
--Ouvi falar que você tá fazendo ioga.
--É, que é que tem?
--Como assim o que é que tem? Voce ouvia Ramones! Voce ria de quem, tipo, acreditava em energia, pagava pau pro Oriente, tá ligado?
--O tempo passou, Antonio. Voce cresceu. Aliás, essas suas gírias tão ultrapassadas. Ninguém mais fala "tipo assim" e "tá ligado".
--Não tô nem azul.
--"Não tô nem azul" também expirrou.
--Não vim pra falar de mim, mas do você, com esse cabelo compridinho ridículo e fazendo ioga. Onde foi que eu errei?
--Voce errou em um monte de lugar. Aliás, nossa adolescencia foi uma lama heim? Mas graças a mim, que amadureci, hoje somos felizas.
--Felizes e ridícilos. Vai dizer que cê também parou de comer carne?
--Não exagera. Só tô tentando ser menos ansioso.
--Falando nisso, não vai oferecer uma cerveja pra gente?
--Não, hoje é terça e ainda tenho que escrever a coluna da Capricho.
--O que? Voce escreve pra Capricho?! Cara, voce virou gay?!
--Não. Mas se tivesse virado?
--Não acredito. Cê tá parecendo o Caetano Veloso falando.
--Adoro o Caetano.
--Ah não! Voce faz ioga, escreve na Capricho, acha que ser gay é normal e ou Caetano?!
--Ahã.
Eu, com 15, me levanto, bravo.
--Não adianta, não vai ter papo. Olha só pra voce: virou um adulto, ridiculo, igual a todos os outros.
--Os adultos são ridiculos, os adolescentes são ridiculos: os seres humanos são ridiculos. O único momento em que não somos ridiculos é quando conseguimos rir de nós mesmos. Coisa que voce não sabe. Aliás, talvez essa seja a única grande diferença entre nós: voce leva a sério, eu não.
--Quanta pretensão - diz, uma voz, atrás de mim (ou de mins?). Parado, em frente à porta, com um sorriso ironico no rosto e fazendo um não com a cabeça, eu com 60 anos observo.
--Voces dois ainda têm muito a aprender.

Revista Capricho.
Estive pensando, por Antônio Prata